sábado, 5 de dezembro de 2015
sexta-feira, 4 de dezembro de 2015
Ministério público aponta a "somatória de ineficiências" nas causas da tragédia de Mariana
Complexo de barragens do Germano em 2000. No outdoor da empresa lêem-se as inacreditáveis palavras: "Daqui a água sai tratada. Fica o respeito pelo meio ambiente" |
Depois de quase um
mês avaliando informações e documentos sobre a maior tragédia
ambiental do Brasil, que devastou 80% do Vale do Rio Doce e vitimou
13 pessoas, sendo que oito continuam desaparecidas, o promotor de
Justiça Carlos Eduardo Ferreira Pinto, coordenador do Núcleo de
Resolução de Conflitos Ambientais (Nucam) do Ministério Público
de Minas Gerais disse ontem “que a mineradora Samarco fez uma série
de reparos na Barragem de Fundão, comparados a remendos, que não
eram informados aos órgãos de defesa ambiental e que às vezes
sequer tinham projetos, mas que tornaram comprometidas as condições
de segurança da estrutura”.
Embora ainda não esteja concluído o laudo técnico que vai apontar a causa da tragédia de 5 de novembro – previsto inicialmente para ser entregue em 30 dias – o mais provável, segundo o coordenador do Nucam-MG, é que o desastre não tenha causa única. “Um rompimento não acontece por acaso e por uma só ação. Existe uma estrutura com uma potencialidade grande, que tem de ter necessariamente um controle proporcional de monitoramento, inspeção e fiscalização. Esse é o ponto fundamental a se abordar. As causas acabam ficando em segundo plano”, afirmou.
Para o coordenador, que administra a força-tarefa formada por promotores e especialistas desde o dia seguinte à tragédia em Mariana, trata-se de uma “somatória de ineficiências”:
Embora ainda não esteja concluído o laudo técnico que vai apontar a causa da tragédia de 5 de novembro – previsto inicialmente para ser entregue em 30 dias – o mais provável, segundo o coordenador do Nucam-MG, é que o desastre não tenha causa única. “Um rompimento não acontece por acaso e por uma só ação. Existe uma estrutura com uma potencialidade grande, que tem de ter necessariamente um controle proporcional de monitoramento, inspeção e fiscalização. Esse é o ponto fundamental a se abordar. As causas acabam ficando em segundo plano”, afirmou.
Para o coordenador, que administra a força-tarefa formada por promotores e especialistas desde o dia seguinte à tragédia em Mariana, trata-se de uma “somatória de ineficiências”:
“Tem-se um
licenciamento ambiental frágil, em que não se analisam nem se
avaliam os impactos ambientais na proporção necessária, a ausência
de estudos relevantes por parte do empreendedor, a ausência de
monitoramento adequado, de inspeções e de fiscalizações por parte
do poder público. Então, há uma somatória de ineficiências de um
sistema que leva à operação de um empreendimento sem o necessário
acompanhamento rigoroso por parte do poder público”.
Entre as intercorrências, fatos e incidentes que ocorreram na barragem, Carlos Eduardo Ferreira Pinto cita como intervenções uma galeria que teria se rompido e um afloramento de água (surgência) em determinado ponto da estrutura, que exigiram a tomada de medidas de emergência pela mineradora. As alterações na estrutura feitas no projeto inicial da Barragem de Fundão (esse sim licenciado e aprovado na construção, há 10 anos, e renovado em 2013, com voto de abstenção do MP mineiro no Copam) nem sempre passaram pelo crivo dos diversos órgãos ambientais. “Deixa-se de investir em segurança e monitoramento e contratam-se várias empresas terceirizadas para fazer o serviço, sendo que elas não conversam entre si. O mais grave é que se cumpre o monitoramento dos órgãos ambientais de maneira muito formal”, disse Carlos Eduardo Ferreira Pinto.
Entre as intercorrências, fatos e incidentes que ocorreram na barragem, Carlos Eduardo Ferreira Pinto cita como intervenções uma galeria que teria se rompido e um afloramento de água (surgência) em determinado ponto da estrutura, que exigiram a tomada de medidas de emergência pela mineradora. As alterações na estrutura feitas no projeto inicial da Barragem de Fundão (esse sim licenciado e aprovado na construção, há 10 anos, e renovado em 2013, com voto de abstenção do MP mineiro no Copam) nem sempre passaram pelo crivo dos diversos órgãos ambientais. “Deixa-se de investir em segurança e monitoramento e contratam-se várias empresas terceirizadas para fazer o serviço, sendo que elas não conversam entre si. O mais grave é que se cumpre o monitoramento dos órgãos ambientais de maneira muito formal”, disse Carlos Eduardo Ferreira Pinto.
Fotos: acervo Mariana Viva |
O promotor liga o computador e vasculha
pilhas de documentos, em busca de dados que demonstrem o que diz. “Um
exemplo clássico disso é o monitoramento prestado junto à Feam
(Fundação Estadual do Meio Ambiente), que é preenchido on-line.
Veja bem: a empresa preenche na internet uma declaração das
condições de estabilidade da sua represa”. Segundo o
promotor, a Feam só teve acesso ao relatório de inspeção regular
integral 13 dias depois do acidente.
O autor da ação civil pública lembra ainda que a responsabilidade sobre a produção do documento da auditoria interna das barragens nas empresas, em geral por falta de condições técnicas dos órgãos ambientais, é entregue às próprias empresas, obrigadas a manter a Feam informada, de acordo com a Lei de Segurança das Barragens. De fato, o laudo da auditoria a cargo da empresa Vogbr confirma as condições de estabilidade da barragem, mas recomenda que “a Samarco deverá alterar a Carta de Risco desta estrutura, pois os alteamentos (elevações) são constantes, numa taxa de 20 a 25 metros por ano”.
Na comparação com a inspeção feita no ano anterior, o documento sugere dar continuidade ao “monitoramento e inspeções periódicas na barragem e manter a poda da vegetação nos taludes jusantes”. Novas medidas devem ser colocadas em prática, como “realizar ensaios para avaliar a permeabilidade dos materiais”, “construir ou restaurar canaletas” e “retirar o acúmulo de água no pé do barramento”. Meses antes, a Feam havia sido informada apenas de um resumo dessas condições do relatório integral de Fundão.
O promotor resume as impressões do trabalho de investigação: “Imagine uma estrutura muito pesada, cheia de remendos, sem a necessária autorização dos órgãos ambientais, em que se altera o projeto executivo. Isso forma uma série de conjunturas que comprometem a operação de segurança”, afirmou.
O autor da ação civil pública lembra ainda que a responsabilidade sobre a produção do documento da auditoria interna das barragens nas empresas, em geral por falta de condições técnicas dos órgãos ambientais, é entregue às próprias empresas, obrigadas a manter a Feam informada, de acordo com a Lei de Segurança das Barragens. De fato, o laudo da auditoria a cargo da empresa Vogbr confirma as condições de estabilidade da barragem, mas recomenda que “a Samarco deverá alterar a Carta de Risco desta estrutura, pois os alteamentos (elevações) são constantes, numa taxa de 20 a 25 metros por ano”.
Na comparação com a inspeção feita no ano anterior, o documento sugere dar continuidade ao “monitoramento e inspeções periódicas na barragem e manter a poda da vegetação nos taludes jusantes”. Novas medidas devem ser colocadas em prática, como “realizar ensaios para avaliar a permeabilidade dos materiais”, “construir ou restaurar canaletas” e “retirar o acúmulo de água no pé do barramento”. Meses antes, a Feam havia sido informada apenas de um resumo dessas condições do relatório integral de Fundão.
O promotor resume as impressões do trabalho de investigação: “Imagine uma estrutura muito pesada, cheia de remendos, sem a necessária autorização dos órgãos ambientais, em que se altera o projeto executivo. Isso forma uma série de conjunturas que comprometem a operação de segurança”, afirmou.
Sandra Kiefer
(Estado de Minas, 04/12/2015)
segunda-feira, 23 de novembro de 2015
Sebastião Salgado e o Instituto Terra, ou: os pés de barro de um certo ambientalismo
A Vale, Sebastião Salgado e manifestação contra a AcelorMittal na África do Sul em 2008 |
Dentre
as estratégias recorrentes de "mitigação" mantidas pelas
grandes empresas mineradoras para evitar a corrosão definitiva de
sua imagem, está a subvenção a iniciativas com alta taxa de
retorno midiático e "cultural". Depois de eleita a Pior
Empresa do Mundo em 2012 pelo Public Eye Award, a Vale
resolveu "adotar" o Instituto Inhotim. Trata-se de uma
alternativa muito mais barata do que redefinir sua escala de produção
(que continuou nas nuvens) ou adotar políticas ambientais guiadas
pelos princípios de responsabilidade sócio-ambiental. Ao mesmo
tempo em que sua filial Samarco iniciava um ambicioso plano de
ampliação da capacidade das já gigantescas barragens do Germano e
do Fundão, com os resultados que agora amargamos, a Vale retirava em
maio deste ano seu apoio à manutenção do espaço
cultural da Estação Ferroviária de Mariana.
Como
se pode ver, a "responsabilidade" das grandes empresas do
setor se compõe basicamente de peças de marketing e de iniciativas
"ambientais" de alcance pífio ou mesmo duvidoso. Torna-se
estratégico para elas associar a sua imagem a alguma figura ou
instituição "acima de qualquer suspeita" e de ampla
aceitação. Também aqui, é claro, o que conta é a lógica do
custo-benefício. E para isso a marca Sebastião Salgado se mostra
perfeita.
De Salgado já se disse que sua arte não passa de uma
espetacularização da miséria. Deixemos a questão aos críticos, e
voltemos os olhos para o homem político. Mundialmente famoso,
respeitado. Dias depois da tragédia de Mariana, ele reaparece e pede compreensão dos que querem
a punição da Samarco. Chega a prometer um milagre: o Rio Doce pode
ser ressuscitado. Como prova, apresenta o projeto-piloto desenvolvido
na sua Fazenda Bulcão, em Aimorés, sua amada terra natal.
É revelador que a tragédia de Mariana e
do Rio Doce rapidamente tenha colocado a figura de Salgado sob os
holofotes da grande mídia. O Instituto Terra, presidido por sua
esposa, Lélia Wanick, e de que ele é o vice-presidente, teria demonstrado o poder miraculoso do
reflorestamento e proteção de nascentes. Se isso bastaria para
desenterrar Bento Rodrigues e absorver 62 milhões de toneladas de
rejeito e lama despejados no Rio Doce, só o bom Deus sabe.
A
força midiática e política de Salgado ficaram ainda mais evidentes
na sexta-feira passada, quando o fotógrafo tomou parte numa seletíssima reunião
com os governadores Fernando Pimentel (PT) e Paulo Hartung (PMDB). Salgado se manifestou contra a ideia de multar exemplarmente as
mineradoras pelo maior desastre ambiental da história de Minas e do
Brasil. O melhor seria criar um grande fundo de reparação, a ser
gerido de forma autônoma pelos governos de Minas Gerais e do
Espírito Santo. Os dois governadores, que sabidamente mantêm excelentes relações com o setor minerário-siderúrgico, certamente apreciaram sua companhia.
Mas ao
receber polpudas doações de mineradoras como a Vale, Samarco e CSN,
assim como da AcelorMittal, o Instituto Terra de Sebastião Salgado ultrapassou em muito a linha vermelha da ética organizacional e ambiental.
Print screen do balanço de 2012/2013 do Instituto Terra. Depois do BNDES, a Vale-Samarco foi a segunda maior "parceira" da ONG de Sebastião Salgado. Disponível no site http://www.institutoterra.org |
Foto: G1, 18/01/2015 |
Fonte: Gazeta Online, 8/10/2015 |
A
foto abaixo, publicada em julho deste ano pelo Século Diário,
mostra em que se transformou a capital do Espírito Santo. A "CPI do Pó Preto" da
Câmara de Vereadores de Vitória estimou que as oito usinas da
Vale e as três da AcelorMittal na cidade lançam 38.000 toneladas de
poluentes por mês na atmosfera.
Fonte: Século Diário, 23/07/2015 |
Calcula-se
que somente em Vitória sejam gastos 565 milhões de reais por ano
com as consequências das doenças causadas pela poluição dos
parceiros de Sebastião Salgado no Instituto Terra.
O
"engajamento" de Salgado em favor do meio
ambiente, caso fosse autêntico e desinteressado, não andaria de
braços dados com empresas diretamente responsáveis pelas tragédias
ambientais de Vitória e de Mariana. Empresas que transformaram em
latrina o ar dos capixabas, em cemitério Bento Rodrigues e em veio morto o Rio Doce. Os 608,69
hectares reflorestados de sua fazenda não passam de um grão de areia nesse mar de
destruição. Salgado sabe
muito bem disso.
O
grande fotógrafo revela assim os seus pés de barro. O que nos faz
pensar se não estariam de fato com a razão os seus críticos.
Aqueles para os quais sua carreira se construiu à custa de uma
esteticização do sofrimento humano, mais que de um compromisso com
o ser humano.
quinta-feira, 19 de novembro de 2015
Simbolismo e destruição: o olhar profético do poeta Alphonsus de Guimaraens sobre Mariana
Alphonsus
de Guimaraens
(Ouro Preto, 24/07/1870 - Mariana, 15/07/1921)
|
Na
arquiepiscopal cidade de Mariana,
Onde
mais triste ainda é a triste vida humana,
A
contemplar eu passo o dia inteiro, absorto,
Tudo
que na minh'alma está de há muito morto,
No
claro-escuro de uma ideal saudade
Que
como ampla mortalha em treva escura invade
Os
pindáricos sonhos da minh'alma,
Eu
vejo tudo com tristeza e calma...
(Nossos agradecimentos a Duda Machado pela lembrança!)
quarta-feira, 18 de novembro de 2015
"Fica Samarco": entre o egoísmo coletivo e a falta de imaginação
Mariana,
como muitos outros municípios brasileiros, depende da mineração. O
prefeito da cidade foi apenas sincero ao realçar esse fato em
diversas entrevistas que concedeu à imprensa. Assim, é apenas
natural que um grande número de famílias marianenses se sinta
insegura diante das consequências que podem advir para a empresa da
catástrofe que ela própria, Samarco, produziu.
O
fato bruto se impõe: não há alternativa, no curto e talvez mesmo
no médio prazo, para a mineração. Teremos de conviver com ela. A
questão é saber em
que condições vai se dar esse convívio daqui para a frente.
O que as primeiras manifestações realizadas na cidade fizeram a
questão de ressaltar é que, para além da urgência de se reparar
as perdas das famílias e comunidades atingidas, a mineração,
tal como praticada nos termos atuais, chegou ao seu limite. Uma
mineração feita ao arrepio de qualquer controle sério e
independente, que adentra o perímetro urbano das cidades, que
emprega enormes quantidades da água de nossos rios e mananciais a
custo zero, que insiste numa política de desinformação, que pede
carta branca para a expansão de suas atividades em troca do aumento
dos royalties. A tragédia de Mariana mostra que a persistência
desse modelo em pleno século 21 é mais que um anacronismo. É um
crime.
Fotos: O Tempo, 18/11/2015 |
Já
se esperava que a empresa acionasse sua rede de stakeholders
para tentar reverter a maré desfavorável da opinião pública.
Diante do descaso com o meio ambiente, da perda de vidas humanas,
diante do gigantismo da destruição e de imagens que não serão
apagadas da memória, só haveria uma alternativa possível: insuflar
esposas e filhos de trabalhadores da mineração a um "vem para
a rua" em defesa não da comunidade e das vítimas, mas de si
mesma.
A
mineração não acabou nem acabará tão cedo. Mas um modelo, o
atual, cujas bases são essencialmente as mesmas desde o Brasil
Colônia, esse sim acabou em 5 de novembro de 2015. É sem dúvida
fácil para as grandes mineradoras insuflar aqueles que dela dependem
a irem para as ruas. Velada, paira sobre elas a ameaça. A mesma
ameaça que sempre impede as pessoas de "falarem mal" da
Vale, da Samarco. Há olheiros. Há quem possa denunciar ao
supervisor. Uma cidade, a mais antiga de Minas, feita refém.
Quanto
na verdade são elas, as empresas, que precisam do nosso subsolo, que
precisam da força de trabalho local. Somente os ingênuos acreditam
que Samarco e Vale possam dar suas costas para Mariana, deixando seus
bilhões para trás.
Mas
mesmo a ingenuidade tem limites. Os que vestem camisas com os dizeres
"Somos todos Samarco" não praticam solidariedade uns em
relação aos outros ou em relação à cidade, mas praticam sim uma
forma perversa de egoísmo coletivo. Os nossos interesses
acima de todos os demais. Que viva Mariana, nem que para isso pereça
o mundo. Em cada rosto de adulto (pois o único medo autêntico ali
era o das crianças), lê-se a triste e dura mensagem desse egoísmo
coletivo: "Retomem-se as atividades da Samarco, queremos tudo
como antes, acidentes acontecem. Quem mora a jusante, que procure
resolver os seus problemas, vejam que a empresa está fazendo o que
pode. Só não matem a galinha dos ovos de ouro. Estamos aqui para
defender nossos interesses e, quanto às feridas, o tempo há
de curá-las."
Em
Mariana, cidade tricentenária em que o cidadão comum está isento
de pagar conta de água porque "há de sobra nas redondezas",
continua-se a acreditar que recursos hídricos e minerais são
infinitos, e que a ação do homem sobre a natureza pode continuar
seu curso irresponsável desde que cada um receba sua parte dos
lucros. A parte que lhe cabe nesse latifúndio, diria o poeta.
De
modo que a verdade pode ser ainda pior do que gostaríamos. Em grande
medida, a ação das mineradoras continua irresponsável, alheia a
quaisquer limites racionais e éticos porque a maior parte das
pessoas nesta cidade funciona segundo a mesmíssima lógica: a lei
primeira é a do interesse pessoal ou, o que dá no mesmo, do egoísmo
coletivo.
O
que levou centenas de pessoas às ruas ontem, ostentando faixas e
cartazes em defesa de uma empresa que cometeu o maior crime ambiental
da história do Brasil, bem pode ter sido o medo. Pode ter sido
também uma forma qualquer de "falsa consciência". Mas foi
ainda, e isso é triste, a recusa em refletir sobre o significado
mais profundo da tragédia de Mariana. A incapacidade de se colocar
uma simples pergunta: esse modelo acabou, ou deve ser mantido
enquanto houver uma grama de minério a extrair do nosso chão? As
cidades mineradoras podem ou não desenhar um outro futuro para si?
A
falta de imaginação, tanto quanto o egoísmo coletivo ou o cinismo
de um marketing obtido à custa de ameaças veladas, é que tem
roubado a Mariana a possibilidade de um futuro melhor.
segunda-feira, 16 de novembro de 2015
O verdadeiro "mar de lama" tem origem e endereço: veja imagens do protesto desta segunda-feira em frente à sede da Vale no Rio de Janeiro
Numa demonstração de solidariedade, centenas de pessoas mostraram hoje que a Pior Empresa do Mundo de 2011 (pelo Public Eye Awards) continua merecedora desse título.
Atuação do setor minerário e conivência das autoridades: o verdadeiro "mar de lama".
Mariana pede justiça: para si e todas as localidades atingidas pelo descaso da Samarco, Vale e BHP
É esse o modelo de "desenvolvimento" que queremos?
Ilustração premonitória, quando da escolha da Vale como Pior Empresa do Mundo de 2011.
Um lembrete aos que somente agora acordaram para a urgência da questão ambiental: a expansão irrestrita da mineração (inclusive no interior das zonas urbanas, bem como em áreas de preservação e reservas naturais de água), o sucateamento das instâncias reguladoras e a ameaça de flexibilização da legislação ambiental têm contado com o inteiro apoio não só da "bancada do minério" e dos últimos governos de Minas Gerais, mas também do Governo Federal.
Até quando, Dilma? Até quando, Pimentel?
Mariana pede justiça: para si e todas as localidades atingidas pelo descaso da Samarco, Vale e BHP
É esse o modelo de "desenvolvimento" que queremos?
Ilustração premonitória, quando da escolha da Vale como Pior Empresa do Mundo de 2011.
Um lembrete aos que somente agora acordaram para a urgência da questão ambiental: a expansão irrestrita da mineração (inclusive no interior das zonas urbanas, bem como em áreas de preservação e reservas naturais de água), o sucateamento das instâncias reguladoras e a ameaça de flexibilização da legislação ambiental têm contado com o inteiro apoio não só da "bancada do minério" e dos últimos governos de Minas Gerais, mas também do Governo Federal.
Até quando, Dilma? Até quando, Pimentel?
O impacto sobre a natureza após o desastre de Mariana: o que dizem os especialistas
-
Maurício Ehrlich, professor de geotecnia da Coppe-UFRJ: "Esse resíduo de mineração é infértil porque não tem matéria orgânica. Nada nasce ali. É como plantar na areia da praia de Copacabana". A reconstituição do solo pode levar "até centenas de anos, que é a escala geológica para a formação de um novo solo".
-
Ricardo Coelho, ecólogo da UFMG: "A perda da biodiversidade pode demorar décadas para ser reestabelecida. E isso ainda vai depender de programas montados para esse fim", diz. "Existe ainda a possibilidade de espécies endêmicas [que existem só naquela região] serem extintas."
-
André Ruschi, diretor da Estação de Biologia Marinha Augusto Ruschi: "Há espécies animais e vegetais ali [no Rio Doce] que podemos considerar extintas a partir de hoje". Ele chama a atenção para o fato de que o rompimento das barragens coincidiu com o período de reprodução de várias espécies de peixes. "É o maior desastre ambiental da história do país".
Folha
de São Paulo (15/11/2015)
Como os interesses das mineradoras se impõem aos das comunidades
As
mineradoras estão entre os maiores doadores da última campanha
eleitoral. Na lista dos cinco maiores setores que
contribuíram para a eleição de deputados, elas ocupam o quarto
lugar, perdendo apenas para alimentação, bancos e construção.
Juntas, doaram R$ 32,7 milhões para os 15 partidos cujos
candidatos disputaram uma vaga na Câmara, principalmente por Minas
Gerais, Pará e Bahia, maiores estados mineradores do Brasil.
Somente
a Vale, que tem participação na Samarco, responsável pela tragédia
de Mariana, doou R$ 22,6 milhões (o que faz dela a nona maior
doadora da campanha eleitoral de 2014). O levantamento foi feito
pelo Comitê
Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração,
organização que reúne mais de 100 entidades, e que,
desde as eleições de 2012, monitora os financiamentos das
mineradoras em todo o país.
O
partido que mais arrecadou foi o PMDB, que recebeu R$ 13,8 milhões,
seguido pelo PSB (R$ 5,7 milhões), PT (R$ 4,3milhões), PSDB (R$ 3,6
milhões) e PP (R$ 1,7 milhão), praticamente as maiores bancadas da
Câmara dos Deputados. Para Alessandra Cardoso, uma das
coordenadoras do Instituto Nacional de Estudos Socioeconômicos
(Inesc), entidade que faz parte do comitê, esse financiamento das
mineradoras impede que o Congresso Nacional legisle de “forma
isenta, com foco no interesse do público, em relação à
mineração”. “Espero que esse acidente terrível em Mariana, que
causou a morte de diversas pessoas e matou o Rio Doce, uma tragédia
socioambiental sem preço e sem precedentes no Brasil, mude a visão
do Parlamento sobre a legislação que envolve o setor de mineração”,
afirma.
Há tempos, o comitê vem lutando para que deputados financiados pela mineração sejam afastados da comissão que discute na Câmara o novo Código da Mineração, cuja legislação atual é de 1967. De acordo com o estudo do comitê, dos 27 deputados que compõem essa comissão, apenas sete não receberam financiamento eleitoral do setor de mineração. O relator do código, deputado federal Leonardo Quintão (PMDB), teve 42% de sua campanha em 2014 bancada por empresas ligadas à mineração. A maioria desse montante, veio de doações indiretas repassadas pelos diretórios estadual e nacional do seu partido. Ano passado, ele recebeu R$ 2 milhões em financiamento desse setor, contra R$ 400 mil, em 2010, quando o novo Código da Mineração ainda não estava em tramitação.
O presidente e o vice da comissão que debate o novo código, Gabriel Guimarães (PT-MG) e Marcos Montes (PSD-MG) também receberam doações. Do total arrecadado (R$ 2,4 milhões) por Gabriel Guimarães em 2014, cerca de 20% foi doado por empresas ligadas à mineração. Na campanha anterior, esse montante era de cerca de 5%. Mesmo caso de Montes, que arrecadou cerca de R$ 3,1 milhões, sendo que 20% veio de mineradoras. Na campanha anterior, esse percentual era de 5%.
Um dos integrantes dessa comissão, o deputado federal Guilherme Mussi (PP-SP), teve sua campanha praticamente bancada pela mineração. Do total arrecadado por ele, cerca de 77% foi proveniente de empresas ligadas à mineração. Uma única mineradora, a Indústria Brasileira de Artigos Refratários, localizada no interior de São Paulo, foi responsável diretamente por cerca de 72% do total arrecadado pelo então candidato, cuja campanha custou cerca de R$ 4 milhões. A reportagem não conseguiu contato com os deputados da comissão.
Há tempos, o comitê vem lutando para que deputados financiados pela mineração sejam afastados da comissão que discute na Câmara o novo Código da Mineração, cuja legislação atual é de 1967. De acordo com o estudo do comitê, dos 27 deputados que compõem essa comissão, apenas sete não receberam financiamento eleitoral do setor de mineração. O relator do código, deputado federal Leonardo Quintão (PMDB), teve 42% de sua campanha em 2014 bancada por empresas ligadas à mineração. A maioria desse montante, veio de doações indiretas repassadas pelos diretórios estadual e nacional do seu partido. Ano passado, ele recebeu R$ 2 milhões em financiamento desse setor, contra R$ 400 mil, em 2010, quando o novo Código da Mineração ainda não estava em tramitação.
O presidente e o vice da comissão que debate o novo código, Gabriel Guimarães (PT-MG) e Marcos Montes (PSD-MG) também receberam doações. Do total arrecadado (R$ 2,4 milhões) por Gabriel Guimarães em 2014, cerca de 20% foi doado por empresas ligadas à mineração. Na campanha anterior, esse montante era de cerca de 5%. Mesmo caso de Montes, que arrecadou cerca de R$ 3,1 milhões, sendo que 20% veio de mineradoras. Na campanha anterior, esse percentual era de 5%.
Um dos integrantes dessa comissão, o deputado federal Guilherme Mussi (PP-SP), teve sua campanha praticamente bancada pela mineração. Do total arrecadado por ele, cerca de 77% foi proveniente de empresas ligadas à mineração. Uma única mineradora, a Indústria Brasileira de Artigos Refratários, localizada no interior de São Paulo, foi responsável diretamente por cerca de 72% do total arrecadado pelo então candidato, cuja campanha custou cerca de R$ 4 milhões. A reportagem não conseguiu contato com os deputados da comissão.
Novo
marco regulatório da mineração: à imagem e semelhança das
mineradoras
O novo Código da Mineração foi enviado pelo governo federal em 2013 e ainda está em tramitação na Câmara dos Deputados, mas em fase final. O relatório final de Quintão já está pronto, mas por causa de divergência ainda não foi votado na comissão especial. Para Alessandra Cardoso, depois do estouro das duas barragens em Mariana, o novo código não pode continuar tramitando do jeito que está, pois, segundo ela, não prevê nenhum tipo de cuidado com a instalação e o monitoramento de minas e de barragens para evitar que fatos como o que ocorrem em Minas se repitam no Brasil. “Espero que Mariana seja um divisor de águas e que abra uma nova forma de discutir a regulamentação da mineração no país”.
(...)
Doações feitas pelas mineradoras aos partidos
O novo Código da Mineração foi enviado pelo governo federal em 2013 e ainda está em tramitação na Câmara dos Deputados, mas em fase final. O relatório final de Quintão já está pronto, mas por causa de divergência ainda não foi votado na comissão especial. Para Alessandra Cardoso, depois do estouro das duas barragens em Mariana, o novo código não pode continuar tramitando do jeito que está, pois, segundo ela, não prevê nenhum tipo de cuidado com a instalação e o monitoramento de minas e de barragens para evitar que fatos como o que ocorrem em Minas se repitam no Brasil. “Espero que Mariana seja um divisor de águas e que abra uma nova forma de discutir a regulamentação da mineração no país”.
(...)
Doações feitas pelas mineradoras aos partidos
-
PMDB
R$ 13,8 milhões
PSB
R$ 5,7 milhões
PT
R$ 4,3 milhões
PSDB
R$ 3,6 milhões
PP
R$ 1,7 milhão
PCdoB
R$ 1,1 milhão
DEM
R$ 800 mil
Solidariedade
R$ 550 mil
PPS
R$ 400 mil
PSD
R$ 300 mil
PR
R$ 200 mil
PRB
R$ 100 mil
PSL
R$ 100 mil
PTB
R$ 50 mil
PHS
R$ 20 mil
Total
R$ 32,7 milhões
Fonte:
Comitê
Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração
sábado, 14 de novembro de 2015
Samarco finalmente admite que a situação na barragem de Germano é crítica
A
Barragem de Germano, a maior do complexo de mesmo nome da Samarco em
Mariana, na Região Central do estado, opera com nível de segurança
abaixo do recomendável, admitiu ontem a mineradora. O diretor de
Projetos e Ecoeficiência da empresa, Maury Souza Júnior, informou
que uma das paredes de sustentação da estrutura está com
coeficiente de segurança de 1,22, abaixo do que a empresa considera
como mínimo, que é 1,30. Segundo ele, são quatro paredes,
sendo que o dique principal tem coeficiente de 1,98. O diretor
informou que estão sendo feitas intervenções para acrescentar
blocos de pedra na contenção da parede afetada, conhecida como
Selinha, até que seja alcançado o coeficiente de 1,30. Apesar
disso, ele garantiu que a barragem está estável. Posteriormente, as
intervenções vão continuar para que os coeficientes das três
paredes cheguem a 1,7, por medida de segurança. Além do dique
principal, as paredes são Selinha (1,22), Tulipa (1,46) e Sela
(1,48).
Segundo
o engenheiro geólogo Edézio Teixeira de Carvalho, professor
aposentado da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o índice
de 1,22 no coeficiente de segurança é muito baixo. “Esse
valor é calculado com a relação entre as forças resistentes (que
dão sustentação à estrutura) e as forças solicitantes (que fazem
pressão sobre ela). O ideal é que esse número seja próximo de 2,
sendo que, na minha avaliação, o mínimo para que a barragem
esteja segura é a partir de 1,5. Se estão dizendo que esse índice
é 1,22, significa uma folga de apenas 22% na relação das forças
resistentes e solicitantes”, explicou o especialista. “Se
o valor chega a 1, é o perfeito equilíbrio, significa que a
barragem está em seu limite, perto de romper”, acrescentou.
Valor abaixo disso significa colapso. “O cálculo tem que dar no
mínimo 1”, afirmou.
(...)
Na manhã de ontem, o prefeito de Mariana, Duarte Júnior, também
havia confirmado a existência de uma fissura em uma das três
contenções da Barragem Germano. Segundo o prefeito, a estrutura
está sendo monitorada 24 horas por dia, com base em cálculos que
medem o risco de rompimento. Por enquanto, o governo de Minas não
deve enviar equipe ao local, segundo Duarte Júnior. “Qualquer
pequena fissura para nós é muito grande”, disse o prefeito, que
acrescentou temer que um novo rompimento leve uma enxurrada ainda
maior de rejeitos de minério à comunidade de Camargos.
SEM RESPOSTAS: Na quarta-feira, o presidente da Samarco, Ricardo Vescovi, deu entrevista coletiva e se limitou a dizer que as estruturas da barragem estavam estáveis, mas admitiu que foi necessário aumentar seu “grau de segurança”. O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) deu prazo de 48 horas para que a mineradora apresentasse uma projeção de impactos causados por um eventual rompimento da Barragem do Germano. Além disso, determinou que a empresa relacionasse as ações emergenciais a serem conduzidas no caso de mais um desastre.
SEM RESPOSTAS: Na quarta-feira, o presidente da Samarco, Ricardo Vescovi, deu entrevista coletiva e se limitou a dizer que as estruturas da barragem estavam estáveis, mas admitiu que foi necessário aumentar seu “grau de segurança”. O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) deu prazo de 48 horas para que a mineradora apresentasse uma projeção de impactos causados por um eventual rompimento da Barragem do Germano. Além disso, determinou que a empresa relacionasse as ações emergenciais a serem conduzidas no caso de mais um desastre.
As informações ainda não foram repassadas. Restam perguntas ainda sobre as duas estruturas que se romperam, liberando um fluxo de água e lama de 62 milhões de metros cúbicos, equivalente a nove vezes a Lagoa da Pampulha. “Se as duas barragens tinham um corpo geotécnico trabalhando 24 horas, quero saber se foi percebido o erro que resultaria no rompimento e, se foi notada a falha, por que ela não foi sanada a tempo”, avisou Carlos Eduardo Ferreira Pinto, coordenador do Núcleo de Resolução de Conflitos Ambientais (Nucam) do Ministério Público de Minas Gerais. A partir da semana que vem, o promotor de Justiça começa a interrogar, um a um, os funcionários, engenheiros e técnicos envolvidos na operação das minas em questão. No total, entre terceirizados e trabalhadores diretos da Samarco/Vale/BHP Billington, devem ser ouvidas até 15 pessoas.
Estado de Minas (14/11/2015).
Por: Guilherme Paranaíba, João Henrique do Vale, Marcelo Faria e
Sandra Kiefer
sexta-feira, 13 de novembro de 2015
Trabahadores, ambientalistas, movimentos sociais, estudantes e Igreja de Mariana se mobilizam em favor dos atingidos e pela punição dos responsáveis pela tragédia
Manifestação de representantes do Metabase, professores e alunos da UFOP pela punição dos responsáveis (terça, 10/11/2015) |
Celebração na Praça da Sé em memória das vítimas (11/11/2015) |
Manifestação realizada em 12/11/2015 na Praça Gomes Freire, com caminhada passando pela Praça Minas Gerais e reunião aberta na Praça da Sé (fotos: Estado de Minas, G1 e participantes) |
terça-feira, 10 de novembro de 2015
segunda-feira, 9 de novembro de 2015
Água em Governador Valadares só dura mais um dia
Governador
Valadares, no Leste de Minas Gerais, só tem água para abastecer sua
população por mais 24 horas. A lama que vazou no rompimento das
barragens da mineradora Samarco em Mariana, na Região Central de
Minas, na quinta-feira, e chegou ao Rio Doce, alcançou ontem o
município de 278 mil habitantes. Com isso, o Serviço Autônomo de
Abastecimento de Água e Esgoto (SAAE) interrompeu a captação no
rio e pediu aos moradores para economizarem água. Em nota, a
administração municipal informou que não há prazo para a retomada
da captação e, por isso, todo desperdício deve ser evitado.
A interrupção na
captação da água no leito do Rio Doce ocorreu por volta das 13h de
ontem, quando os primeiros sinais de poluição apareceram no curso
d’água, antes que ela chegasse ao município. O SAAE coletou
amostras da água e as análises demonstraram que o nível de
contaminação é alto, o que impede o tratamento até que a lama se
dilua.
De acordo com Vilmar Rios, diretor-adjunto do SAAE, não há como saber por quanto tempo a contaminação vai prejudicar a captação no Rio Doce. Por volta das 16h, carros de som contratatos pela prefeitura começaram a percorrer as ruas da cidade, reforçando o pedido para que todos façam economia de água. A defesa civil municipal previa que o maior volume de lama passasse pela cidade por volta das 21h.
A interrupção da captação de água em Governador Valadares é mais um drama resultante do rompimento das barragens do Fundão e Santarém, da mineradora Samarco. Horas depois da tragédia, a avalanche de lama atingiu os rios Gualaxo e Carmo e inundou a cidade de Barra Longa. Na manhã de sexta-feira, os responsáveis pela represa de Candonga, em Santa Cruz do Escalvado, tiveram que abrir as comportas da hidrelétrica para impedir que o grande volume de água e lama destruísse a barragem. Com isso, a lama de rejeitos chegou ao leito do Rio Doce, deixando rastros de poluição em municípios como Rio Doce, Naque, Ipatinga e Valadares. Ontem à tarde, os primeiros sinais de poluição chegaram a Colatina, no Espírito Santo, com moradores denunciando que a água tratada nas torneiras estava marrom e com um cheiro forte.
De acordo com Vilmar Rios, diretor-adjunto do SAAE, não há como saber por quanto tempo a contaminação vai prejudicar a captação no Rio Doce. Por volta das 16h, carros de som contratatos pela prefeitura começaram a percorrer as ruas da cidade, reforçando o pedido para que todos façam economia de água. A defesa civil municipal previa que o maior volume de lama passasse pela cidade por volta das 21h.
A interrupção da captação de água em Governador Valadares é mais um drama resultante do rompimento das barragens do Fundão e Santarém, da mineradora Samarco. Horas depois da tragédia, a avalanche de lama atingiu os rios Gualaxo e Carmo e inundou a cidade de Barra Longa. Na manhã de sexta-feira, os responsáveis pela represa de Candonga, em Santa Cruz do Escalvado, tiveram que abrir as comportas da hidrelétrica para impedir que o grande volume de água e lama destruísse a barragem. Com isso, a lama de rejeitos chegou ao leito do Rio Doce, deixando rastros de poluição em municípios como Rio Doce, Naque, Ipatinga e Valadares. Ontem à tarde, os primeiros sinais de poluição chegaram a Colatina, no Espírito Santo, com moradores denunciando que a água tratada nas torneiras estava marrom e com um cheiro forte.
(Ludymilla Sá e
Pedro Cerqueira, Estado de Minas, 9/11/2015)
domingo, 8 de novembro de 2015
Em 2014 a Samarco elevou a quantidade de rejeitos para 21,9 milhões de toneladas ao ano. Mas as obras para ampliar capacidade das barragens de Germano e Fundão só se iniciaram em meados de 2015
Barragens de Germano (toda a parte esquerda e inferior da foto) e do Fundão (canto superior direito) antes do rompimento no dia 05/11/2015 |
Segundo reportagem
publicada pelo jornal O Estado de São Paulo neste domingo
(8/11/2015), em 2014 a produção da unidade da Samarco de Mariana
subiu para 25 milhões de toneladas, o que significa um crescimento
de 15% em relação ao ano de 2013. Consequentemente,
deu-se também um aumento substancial do volume de rejeitos, que
subiu para 21,9 milhões de toneladas ao ano. Toda
essa massa de "estéril", como se denomina na linguagem da
mineração, era armazenada no gigantesco complexo das barragens do
Fundão, Santarém e Germano.
Das três, somente
a última ainda permanece de pé.
Entretanto o
aumento da capacidade das barragens ("alteamento") só
começou a ser feito após o aumento da produção. Como noticiou a
imprensa local no mês de julho, a Samarco comunicou à Câmara de
Vereadores de Mariana que estava dando início aos trabalhos de
"alteamento" das barragens de Germano e Fundão. O
coordenador de construção do projeto, Eduardo Moreira, informou que
a área abrangida seria de 204,65 hectares (Território Notícias,
24/07/2015), o que corresponde à área ocupada por 286,62 campos de
futebol.
Na região
circulam rumores de que a barragem de Germano corre o risco
de colapso. Fotos aéreas (ver abaixo) mostram que ela pode ter tido parte das
suas estruturas afetadas pela descida do material do Fundão.
A Samarco afirma
que não há indícios que a maior das barragens do complexo possa se romper.
Imagem aérea feita a jusante após a catástrofe. Até que ponto é segura a situação da gigantesca barragem de Germano (à esquerda)? |
sábado, 7 de novembro de 2015
Aécio, Anastasia e Pimentel transformaram os órgãos de fiscalização ambiental de Minas Gerais em meros despachantes dos interesses das grandes mineradoras. Mudanças à vista?
MP cogita revogação da licença de operação da Samarco
João Henrique do
Vale e Valquiria Lopes (portal EM, 06/11/2015)
A política de
licenciamento ambiental do Governo de Minas Gerais é falha, segundo
o promotor Carlos Eduardo Ferreira Pinto, coordenador da Promotoria
de Meio Ambiente. De acordo com ele, as licenças estão sendo
concedidas pela administração estadual sem que técnicos avaliem os
locais pessoalmente. A tragédia em Bento Rodrigues, em Mariana, na
Região Central de Minas Gerais, está sendo apurada em um inquérito
civil aberto pelo Ministério Público. Estão sendo apuradas quatro
hipóteses: o cumprimento das condicionantes de licenciamento da
Samarco, empresa responsável pelo empreendimento, a explosão de uma
mina da Vale próximo ao local, o possível abalo sísmico e se as
obras de alteamento da barragem possam ter provocado o acidente. O
prazo para a conclusão do inquérito é de 30 dias. Há a
possibilidade de o MP pedir revogação da licença de operação da
Samarco.
Entre as hipóteses
levantadas, segundo o MP, a mais concreta delas é o descumprimento
das condicionantes do licenciamento. O órgão já exigiu informações
para comprovar se a empresa teve plano de contingenciamento, se foram
realizados ensaios de segurança para a retirada de moradores e
funcionários em caso de acidente. Outro questionamento feito pelo MP
que será enviado ao Governo de Minas é o fato de as barragens terem
sido construídas próximas a comunidades.
A investigação vai apurar se uma explosão que aconteceu em uma mina da Vale próximo ao local do acidente por volta do horário do rompimento pode ter causado danos às barragens. A promotoria já pediu informações para confirmar possíveis abalos sísmicos registrados na cidade. Mesmo assim, o promotor Carlos Eduardo afirma que qualquer empreendimento desta natureza “deve levar em consideração a segurança e prevê que elas tenham segurança, mesmo com um evento desta natureza”.
A investigação vai apurar se uma explosão que aconteceu em uma mina da Vale próximo ao local do acidente por volta do horário do rompimento pode ter causado danos às barragens. A promotoria já pediu informações para confirmar possíveis abalos sísmicos registrados na cidade. Mesmo assim, o promotor Carlos Eduardo afirma que qualquer empreendimento desta natureza “deve levar em consideração a segurança e prevê que elas tenham segurança, mesmo com um evento desta natureza”.
“Vamos apurar de
maneira transparente e rigorosa quais são as causas desta tragedia
para que seja dada uma resposta à comunidade de Mariana e Bento
Rodrigues para saber o que de fato houve. Uma barragem, um
empereendimento desta natureza e desta magnitude não rompe sem ter
motivo”, disse o promotor. Quando foi dada revalidação da
licença da barragem, em outubro de 2013, o promotor afirma que uma
ação civil pública foi instaurada para apurar a viabilidade
ambiental do empreendimento levando em consideração a mata
atlântica ali existente. Na ocasião, o MP fez diversas exigências
à empresa para elaboração do plano de contingenciamento e informou
ao Estado sobre a recomendação. Segundo Carlos Eduardo, cabia ao
governo fiscalizar a exigência.
O promotor fez duras críticas da forma como é feita a fiscalização no Estado. Para ele, as ações estão sendo omissas. “O estado tem que fiscalizar e deve se aparelhar. Não somente aprovar licenciamento sem ir ao local, o que infelizmente tem ocorrido”, conta.
Uma reunião está marcada para este sábado às 10h no Ministério Público com técnicos. A intenção é reunir todas as informações colhidas por técnicos do MP que estão no local. Ato todo, 10 profissionais foram priorizados para dar uma reposta técnica sobre o acidente. O laudo sobre as possíveis causa deve sair em 30 dias.
Em nota, o Sistema Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Sisema) informou que, para aprimorar o licenciamento e a política ambiental, o governo apresentou à Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) o Projeto de Lei 2946/15, que reestrutura o órgão. A proposta abrange o rearranjo das unidades administrativas da Semad e órgãos vinculados, bem como a reformulação do modelo de licenciamento ambiental adotado no Estado, passando pela análise das competências do Copam e das Copa’s na análise e julgamento dos atos autorizativos, com o objetivo de aprimorar e agilizar os serviços prestados pelo Sisema.
Segundo o Sisema, a medida visa à agilidade dos processos de licenciamento sem, porém, deixar de lado o rigor técnico, que assegura a conservação, preservação e recuperação do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável em todo o Estado. Para a concessão do licenciamento, serão observadas todas as medidas de controle ambiental necessárias para o equilíbrio das forças econômicas e ambientais, a fim de se atender às necessidades atuais da população mineira sem, no entanto, comprometer as gerações futuras, completou.
Os laudos do MP vão apurar responsabilidade civil e administrativas e podem subsidiar o inquérito policial que apura a responsabilidade criminal dos responsáveis. Os envolvidos podem ser indiciados por homicídio culposo – sem intenção de matar. Se tiver comprovação de que houve omissão ou que a empresa tinha cometido alguma falha que tenha provocado o resultado no acidente, os responsáveis podem ser responsabilizados por homicídios com dolo eventual.
sexta-feira, 6 de novembro de 2015
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