sábado, 14 de novembro de 2015

Samarco finalmente admite que a situação na barragem de Germano é crítica



A Barragem de Germano, a maior do complexo de mesmo nome da Samarco em Mariana, na Região Central do estado, opera com nível de segurança abaixo do recomendável, admitiu ontem a mineradora. O diretor de Projetos e Ecoeficiência da empresa, Maury Souza Júnior, informou que uma das paredes de sustentação da estrutura está com coeficiente de segurança de 1,22, abaixo do que a empresa considera como mínimo, que é 1,30. Segundo ele, são quatro paredes, sendo que o dique principal tem coeficiente de 1,98. O diretor informou que estão sendo feitas intervenções para acrescentar blocos de pedra na contenção da parede afetada, conhecida como Selinha, até que seja alcançado o coeficiente de 1,30. Apesar disso, ele garantiu que a barragem está estável. Posteriormente, as intervenções vão continuar para que os coeficientes das três paredes cheguem a 1,7, por medida de segurança. Além do dique principal, as paredes são Selinha (1,22), Tulipa (1,46) e Sela (1,48).

Segundo o engenheiro geólogo Edézio Teixeira de Carvalho, professor aposentado da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o índice de 1,22 no coeficiente de segurança é muito baixo. “Esse valor é calculado com a relação entre as forças resistentes (que dão sustentação à estrutura) e as forças solicitantes (que fazem pressão sobre ela). O ideal é que esse número seja próximo de 2, sendo que, na minha avaliação, o mínimo para que a barragem esteja segura é a partir de 1,5. Se estão dizendo que esse índice é 1,22, significa uma folga de apenas 22% na relação das forças resistentes e solicitantes”, explicou o especialista. “Se o valor chega a 1, é o perfeito equilíbrio, significa que a barragem está em seu limite, perto de romper”, acrescentou. Valor abaixo disso significa colapso. “O cálculo tem que dar no mínimo 1”, afirmou.


(...) Na manhã de ontem, o prefeito de Mariana, Duarte Júnior, também havia confirmado a existência de uma fissura em uma das três contenções da Barragem Germano. Segundo o prefeito, a estrutura está sendo monitorada 24 horas por dia, com base em cálculos que medem o risco de rompimento. Por enquanto, o governo de Minas não deve enviar equipe ao local, segundo Duarte Júnior. “Qualquer pequena fissura para nós é muito grande”, disse o prefeito, que acrescentou temer que um novo rompimento leve uma enxurrada ainda maior de rejeitos de minério à comunidade de Camargos.

SEM RESPOSTAS: Na quarta-feira, o presidente da Samarco, Ricardo Vescovi, deu entrevista coletiva e se limitou a dizer que as estruturas da barragem estavam estáveis, mas admitiu que foi necessário aumentar seu “grau de segurança”. O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) deu prazo de 48 horas para que a mineradora apresentasse uma projeção de impactos causados por um eventual rompimento da Barragem do Germano. Além disso, determinou que a empresa relacionasse as ações emergenciais a serem conduzidas no caso de mais um desastre.

As informações ainda não foram repassadas. Restam perguntas ainda sobre as duas estruturas que se romperam, liberando um fluxo de água e lama de 62 milhões de metros cúbicos, equivalente a nove vezes a Lagoa da Pampulha. “Se as duas barragens tinham um corpo geotécnico trabalhando 24 horas, quero saber se foi percebido o erro que resultaria no rompimento e, se foi notada a falha, por que ela não foi sanada a tempo”, avisou Carlos Eduardo Ferreira Pinto, coordenador do Núcleo de Resolução de Conflitos Ambientais (Nucam) do Ministério Público de Minas Gerais. A partir da semana que vem, o promotor de Justiça começa a interrogar, um a um, os funcionários, engenheiros e técnicos envolvidos na operação das minas em questão. No total, entre terceirizados e trabalhadores diretos da Samarco/Vale/BHP Billington, devem ser ouvidas até 15 pessoas.

Estado de Minas (14/11/2015). Por: Guilherme Paranaíba, João Henrique do Vale, Marcelo Faria e Sandra Kiefer

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Trabahadores, ambientalistas, movimentos sociais, estudantes e Igreja de Mariana se mobilizam em favor dos atingidos e pela punição dos responsáveis pela tragédia

Manifestação de representantes do Metabase, professores e alunos da UFOP pela punição dos responsáveis (terça, 10/11/2015)

Celebração na Praça da Sé em memória das vítimas (11/11/2015)

Manifestação realizada em 12/11/2015 na Praça Gomes Freire, com caminhada passando pela Praça Minas Gerais e reunião aberta na Praça da Sé (fotos: Estado de Minas, G1 e participantes)

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Água em Governador Valadares só dura mais um dia



Governador Valadares, no Leste de Minas Gerais, só tem água para abastecer sua população por mais 24 horas. A lama que vazou no rompimento das barragens da mineradora Samarco em Mariana, na Região Central de Minas, na quinta-feira, e chegou ao Rio Doce, alcançou ontem o município de 278 mil habitantes. Com isso, o Serviço Autônomo de Abastecimento de Água e Esgoto (SAAE) interrompeu a captação no rio e pediu aos moradores para economizarem água. Em nota, a administração municipal informou que não há prazo para a retomada da captação e, por isso, todo desperdício deve ser evitado.

A interrupção na captação da água no leito do Rio Doce ocorreu por volta das 13h de ontem, quando os primeiros sinais de poluição apareceram no curso d’água, antes que ela chegasse ao município. O SAAE coletou amostras da água e as análises demonstraram que o nível de contaminação é alto, o que impede o tratamento até que a lama se dilua.

De acordo com Vilmar Rios, diretor-adjunto do SAAE, não há como saber por quanto tempo a contaminação vai prejudicar a captação no Rio Doce. Por volta das 16h, carros de som contratatos pela prefeitura começaram a percorrer as ruas da cidade, reforçando o pedido para que todos façam economia de água. A defesa civil municipal previa que o maior volume de lama passasse pela cidade por volta das 21h.

A interrupção da captação de água em Governador Valadares é mais um drama resultante do rompimento das barragens do Fundão e Santarém, da mineradora Samarco. Horas depois da tragédia, a avalanche de lama atingiu os rios Gualaxo e Carmo e inundou a cidade de Barra Longa. Na manhã de sexta-feira, os responsáveis pela represa de Candonga, em Santa Cruz do Escalvado, tiveram que abrir as comportas da hidrelétrica para impedir que o grande volume de água e lama destruísse a barragem. Com isso, a lama de rejeitos chegou ao leito do Rio Doce, deixando rastros de poluição em municípios como Rio Doce, Naque, Ipatinga e Valadares. Ontem à tarde, os primeiros sinais de poluição chegaram a Colatina, no Espírito Santo, com moradores denunciando que a água tratada nas torneiras estava marrom e com um cheiro forte.

(Ludymilla Sá e Pedro Cerqueira, Estado de Minas, 9/11/2015)

domingo, 8 de novembro de 2015

Em 2014 a Samarco elevou a quantidade de rejeitos para 21,9 milhões de toneladas ao ano. Mas as obras para ampliar capacidade das barragens de Germano e Fundão só se iniciaram em meados de 2015

Barragens de Germano (toda a parte esquerda e inferior da foto) e do Fundão (canto superior direito) antes do rompimento no dia 05/11/2015



Segundo reportagem publicada pelo jornal O Estado de São Paulo neste domingo (8/11/2015), em 2014 a produção da unidade da Samarco de Mariana subiu para 25 milhões de toneladas, o que significa um crescimento de 15% em relação ao ano de 2013. Consequentemente, deu-se também um aumento substancial do volume de rejeitos, que subiu para 21,9 milhões de toneladas ao ano. Toda essa massa de "estéril", como se denomina na linguagem da mineração, era armazenada no gigantesco complexo das barragens do Fundão, Santarém e Germano.
Das três, somente a última ainda permanece de pé.
Entretanto o aumento da capacidade das barragens ("alteamento") só começou a ser feito após o aumento da produção. Como noticiou a imprensa local no mês de julho, a Samarco comunicou à Câmara de Vereadores de Mariana que estava dando início aos trabalhos de "alteamento" das barragens de Germano e Fundão. O coordenador de construção do projeto, Eduardo Moreira, informou que a área abrangida seria de 204,65 hectares (Território Notícias, 24/07/2015), o que corresponde à área ocupada por 286,62 campos de futebol.
Na região circulam rumores de que a barragem de Germano corre o risco de colapso. Fotos aéreas (ver abaixo) mostram que ela pode ter tido parte das suas estruturas afetadas pela descida do material do Fundão.
A Samarco afirma que não há indícios que a maior das barragens do complexo possa se romper.

Imagem aérea feita a jusante após a catástrofe. Até que ponto é segura a situação da gigantesca barragem de Germano (à esquerda)?