quarta-feira, 6 de julho de 2011

A realidade da mineração em Congonhas. Leia o depoimento da congonhense Ivana Celestina Gomes (Revista Ecológico, junho de 2011)


- “Há dois anos, a Namisa resolveu fazer uma estrada no meio de nossos dois mananciais - o São João Batista e o Boi na Brasa - para limitar o tráfego de caminhões na BR-040. Na época, quase 3.000 pessoas do bairro receberam água barrenta em suas casas por 90 dias. Não tínhamos água para nada, nem para fazer café. Mas não sabíamos o motivo de tudo aquilo que estava acontecendo. Gritamos por socorro, apelamos aos órgãos competentes para obtermos uma resposta. Mas não tivemos sucesso. Foi aí que resolvemos ir até os mananciais de água para saber o que estava causando tanto transtorno. E nos deparamos com a estrada que hoje pertence à Namisa.


Fizemos uma manifestação pacífica na promotoria, no Legislativo e na prefeitura. E, já no início de 2010, o promotor de Justiça de Congonhas, Dr. Vinícius Galvão, tomou a iniciativa de responsabilizar a empresa pela manutenção de água às pessoas do Pires até que se resolvesse o problema. Algum tempo depois, começou a chegar água em caminhão pipa e em galões de 20 litros todos os dias em nossas casas. No dia 15 de janeiro de 2010 percebemos que nossa nascente João Batista havia sido totalmente assoreada. Juntos, em regime de mutirão, retiramos de lá aproximadamente 50 toneladas de minério.

A empresa assumiu o erro numa audiência pública, em março de 2010 e nossa nascente diminuiu seu fluxo de água. Isso é do conhecimento da empresa e também da Copasa. O manancial Boi na Brasa (com várias nascentes dentro da mata) não vem mais para a comunidade do Pires I. E a estrada da Namisa fica pronta em agosto. Continuamos lutando para que preservem nossos mananciais. Hoje, eles estão sob proteção da Justiça e sempre que há fluxo menor de água e a comunidade fica sem recurso, entramos com uma representação no Ministério Público. A empresa assinou um Termo de Ajuste de C onduta (TAC) de R$ 300.000 para reparar os erros na comunidade. Com esse dinheiro,está sendo construído um salão comunitário para nossas reuniões. As questões de nossos mananciais já passou da autonomia de nossa Polícia Ambiental. Temos um laudo do Igam, que fez análises lá no Boi na Brasa, que diz que as coisas não estão como deveriam estar. Hoje, não conseguimos mais entrar nos mananciais para fazer limpeza. Não temos mais acesso. A empresa restringe nossa entrada. Não sou contra o progresso de Congonhas. O Pires está rodeado de mineradoras: Vale, Ferrous, Namisa... Só queremos que eles minerem respeitando o meio ambiente, as pessoas e a água. Porque ninguém vive sem água. Falo com o coração, aquilo que eu vivi e ainda vivo aqui”.


Fonte: http://www.revistaecologico.com.br/materia.php?materia=NDk4&edicao_id=66
Acesso: 02/07/2011

Observação do blog: Em 2008, 40% da Namisa foram vendidos pela CSN a um grupo de empresas japonesas e coreanas. Valor da venda: 3 bilhões e 120 milhões de dólares. Como se vê, os orientais querem reaver a todo custo o dinheiro investido...

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