27/08/2012 -
12h54 - UOL
Economia
RIO DE JANEIRO, 27 Ago (Reuters) - Neste
momento em que os preços de minério de ferro estão em queda livre,
a Vale poderá excluir da carteira de investimentos projetos que já
enfrentam ou poderão passar por problemas ambientais, disse uma
fonte próxima da empresa que acompanha o assunto.
Um exemplo
de como isso está acontecendo é o projeto Apolo, localizado em área
pleiteada para se
tornar reserva ambiental em Minas Gerais, suspenso por tempo
indeterminado, disse a fonte, pedindo anonimato.
O projeto,
com capacidade para 24 milhões de toneladas anuais de minério de
ferro, que já havia saído da lista de prioridades da empresa no
final do ano passado, tem parte de suas reservas localizadas onde o
governo federal planeja
criar o Parque da Serra da Gandarela.
Contatada, a Vale não comentou o assunto.
Outros
projetos afetados pela criação do parque seriam Apolo Sul, a mina
Baú e a reativação da mina Capanema, de acordo com mapeamento
realizado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação e
Biodiversidade (ICMBio) para a delimitação do parque.
A reserva,
segundo o órgão federal do meio ambiente, visa preservar, entre
outros alvos, aquíferos que fornecem cerca de 60 por cento da água
de Belo Horizonte e que alimentam importantes rios do país.
Com
investimentos previstos de 2,5 bilhões de dólares, Apolo é alvo de
ação judicial do Ministério Público Federal de Minas Gerais.
OUTROS ADIAMENTOS
O último relatório da Vale sobre o
andamento de projetos aprovados mostra que a companhia adiou em um
ano a expansão do projeto de cobre Salobo, no Pará, para o primeiro
semestre de 2013.
O projeto da maior produtora de minério de
ferro do mundo é alvo de denúncias de tribos indígenas que levaram
o Ministério Publico Federal do Pará a investigar o empreedimento.
Em meados do mês, o presidente da Vale,
Murilo Ferreira, acenou com a possibilidade de a empresa reduzir
investimentos, citando que a companhia decidiu reavaliar Kronau, um
projeto bilionário de potássio no Canadá.
REALIDADE
"O cronograma de investimentos entrou
em processo de realidade desde o ano passado e deve ter mais ajustes
diante desse cenário de economia fraca que não se esperava",
disse a fonte.
Outra fonte próxima da empresa que
acompanha o tema disse que "o ambiente de crise requer adequação
da Vale e de outras mineradoras".
O tema do adiamento nos investimentos entrou
na pauta de discussões da reunião do Conselho de Administração,
realizada no dia 23 de agosto, em Moçambique. Mas as fontes disseram
que o freio já havia sido decidido pela companhia antes mesmo da
reunião.
A carteira de projetos da Vale até 2015 é
de 48 bilhões de dólares, segundo informou a assessoria de imprensa
da empresa.
FREIO NECESSÁRIO
Especialistas avaliam que o setor de minério
se vê obrigado a reduzir investimentos, por conta da queda do preço
da commodity no mercado internacional devido à desaceleração
econômica da China, o maior consumidor da matéria-prima.
"O movimento da Vale de pisar no freio
é necessário, vai na linha de outras mineradora como a BHP",
disse o analista de um banco de investimento que acompanha a empresa
e que pediu para não ser identificado.
A gigante australiana BHP Billiton anunciou
na semana passada o adiamento da expansão de um projeto de cobre
avaliado em 20 bilhões de dólares e disse não aprovará grandes
projetos até junho de 2013.
O minério com 62 por cento de teor de ferro
caiu abaixo de 100 dólares por tonelada na última semana e está em
seu menor nível desde dezembro de 2009, com base nos dados
fornecidos pelo Steel Index, referência para a indústria.
"Se tem minério a preço de 100
dólares (na China), isso significa um minério a 75 dólares base
FOB (Brasil)...
a empresa vai ter que pensar duas vezes para investir, corre o risco
de não ter o retorno do investimento", disse José Augusto de
Castro, presidente em exercício da AEB (Associação do Comércio
Exterior do Brasil).
Castro observou que os preços atuais estão
em patamares pós-crise de 2008, o que deve ter efeitos sobre a
indústria. "Isso deve frear os investimentos do setor. Para o
setor, é um cenário bem sombrio", acrescentou.
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