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Deu no "Folha Marianense" (09/07/2011)


DIGA NÃO À MINERAÇÃO EM ÁREA URBANA

A sociedade civil organizada de Mariana reivindica atenção política para um problema coletivo e que exatamente por isso requer solução pública. Solução que somente os órgãos competentes podem providenciar no sentido de impedir uma tragédia anunciada: a reativação de uma mina a céu aberto em plena área urbana da primeira cidade de Minas Gerais.
A mera possibilidade de liberação das atividades de mineração dentro da nossa cidade é suficiente para nos afligir porque não temos, até agora, quase três meses depois do anúncio das intenções da Vale, qualquer certeza quanto ao posicionamento dos órgãos competentes no sentido de defenderem aquilo que foram eleitos para defender: os direitos dos cidadãos, suas liberdades substantivas, o direito de autodeterminação, de decisão quanto ao como e onde se quer viver, e, em especial, o poder de decisão quanto ao próprio futuro. Precisamos desse posicionamento para recuperarmos nossa paz.
Parece desnecessário enumerar a série de conseqüências, multiplicadas ao infinito, que os impactos sócio-ambientais de um empreendimento dessa natureza, a menos de 5 km do centro da primeira cidade politicamente organizada de Minas Gerais, podem causar. Muito se tem discutido sobre isso, e a conclusão é sempre a mesma para todos aqueles que se comprometem com o destino de Mariana: os prejuízos sociais, ambientais e inclusive culturais para a cidade seriam imensamente superiores aos poucos benefícios de caráter econômicos e privados – estritamente econômicos e privados, é preciso frisar.
O que deve ficar claro para aqueles que ainda não entenderam o espírito da nossa época é que a definição de qualidade de vida mudou; não se apóia mais exclusivamente nos cálculos quanto ao Produto Interno Bruto. As referências do bem-viver hoje são outras. Define-se qualidade de vida pela garantia de acesso: acesso à saúde, à educação, ao planejamento urbano, defesa do meio ambiente, do direito à informação, liberdade de expressão e pensamento que nos capacitam para a participação política e de defesa dos interesses da sociedade civil. A conceituação das “necessidades” humanas, nos termos de hoje, superam em muito o que empresas como a Vale e outras grandes mineradoras pensam poder definir para nós por meio de um mero Índice de Desenvolvimento Humano. Qualidade de vida é mais do que isso. É algo qualitativamente distinto, e que simples números não são capazes de traduzir.
Lutamos por qualidade de vida em uma cidade que tem expressa na sua forma de organização político-social as cicatrizes da exploração, da ética predatória da atividade mineradora sem marco regulatório. Temos, portanto, muito a temer.
No entanto a Vale resiste em informar-nos correta e minuciosamente, ou seja, impede nossa capacitação para participação das decisões quanto ao nosso destino, individualmente e coletivamente falando. O que, em si mesmo, já é motivo para preocupação. Contudo, podemos contar com a ajuda de pessoas responsáveis e de experiência no ramo de mineração, e registre-se, decepcionadas com o que viveram dentro dessas empresas nos últimos anos. Pessoas que, juntas, têm nos ajudado com informações balizadas. A partir dessas informações podemos operar por estimativa a fim de conferir alguma concretude ao tamanho do desastre, algum dimensioanmento dos impactos sócio-ambientais que se abaterão sobre nós. Podemos também nos antecipar e tentar dar alguma materialidade aos direitos que certamente nos serão usurpados caso os órgãos competentes não proíbam a reativação da Mina Del Rey.
Para começar é preciso definir o que a Vale tem classificado o empreendimento. Chama-se a Mina Del Rey de “mini-mina”. Dela pretende-se extrair – em termos de estimativas a partir de informações preliminares da própria empresa, reitero – aproximadamente 170 mil toneladas de minério por mês; cerca de dois milhões de toneladas por ano conforme "informação" da própria empresa. Ou seja, "mini" só se for para a maior mineradora do mundo: afinal dois milhões de toneladas correspondem a meros dois dias de atividade anual da Vale. Eis a pergunta que nos fazemos: É por dois dias que a Vale está disposta a colocar em risco a qualidade de vida da população de Mariana, composta por 54.200 pessoas, segundo dados do último censo?
Outra estimativa: para extrair 170 mil toneladas de minério por mês na mina Del Rey, será preciso movimentar algo em torno de 400.000 toneladas de terra por mês. O resultado disso é uma gigantesca pilha de "estéril" produzida diariamente, que vai sendo entulhada em algum lugar, ou melhor, no lugar da montanha que aos poucos desaparece. Esse "estéril", como indica o próprio nome, é composto de substâncias minerais sem valor econômico para a empresa: material decomposto composto por substâncias altamente nocivas à saúde. Lixo. Poluição severa do ar. Agravamento dos problemas de respiratórios, um drama conhecido de todos que vivem aqui, e que sabemos ser ainda mais grave nas cidades onde as mineradoras exploram desenfreadamente.
Continuemos as estimativas. Da "mini-mina" sairiam por volta de 400 caminhões carregados por dia. Cada caminhão, 30 toneladas. 30 caminhões por hora. 16 horas por dia, sábado, domingo e feriados. Qualquer pessoa capaz de fazer operações matemáticas básicas é pode imaginar o que isso significa em termos de poluição. O que fica difícil imaginar é o tamanho do buraco.
Outra questão que preocupa, e que é preocupação do mundo inteiro hoje: água. Uso racional dos recursos hídricos, proteção das fontes de água. É público e notório que a atividade minerária provoca o rebaixamento do lençol freático. Pois bem, no caso da região onde se encontra a  Mina Del Rey encontram-se quatro nascentes de água, inclusive o famoso Cristal. Provém dessas fontes 40% (quase a metade) da água que abastece Mariana. A proposta indecorosa é susbstituir as fontes por poços artesianos: queda drástica na qualidade da água, maior risco de contaminação, encarecimento dos custos de manutenção. A reativação da mina significa sem exageros substituir mina d’água por mina de minério. Assoreamento dos cursos de água, contaminação das fontes pelo material que cai no chão - óleo queimado, diesel usado nas máquinas e caminhões. Destruição dos morros, considerados as verdadeiras caixas d'água naturais de Mariana. Pergunta: vale a pena?
Podemos ainda dizer que a única coisa verdadeiramente "mini" na Del Rey são os dividendos a serem transferidos para o município. Se a mini-mina vai render alguma coisa, não é para Mariana. Os cálculos já podem ser feitos. Aliás já deveriam ter sido feitos. E sem se esquecer de considerar os ganhos da arrendatária. Porque é disso que se trata em última instância: terceirização de responsabilidade social e ambiental. Evidente que o valor que retornaria ao município não cobriria (como já não cobre) nem de longe, os prejuízos à cidade e a todos nós em termos de saúde pública, saturação do espaço e das estruturas urbanas, patrimônio (paisagem cultural) e meio ambiente. Deterioração do sistema viário, mais poeira, mais barulho, degradação topográfica da paisagem cultural (que atrai tantos turistas de todo o Brasil e do mundo) - tudo em nome de interesse em lucros imediatos que, sem as devidas providências das autoridades competentes passarão por cima de quaisquer interesses públicos.
Por fim é preciso que se destaque algo fundamental: é fato que para impor tamanha interferência na vida das pessoas e no destino coletivo da cidade, a Vale precisa de autorização. Nenhum desses atentados aos direitos das pessoas será impetrado se o poder público local e estadual, os órgãos competentes, o IPHAN, o IBAMA, IGAM, a Câmara Municipal e os deputados estaduais e federais responsáveis pela representação do interesse coletivo não liberarem as licenças requeridas para a reativação da Mina Del Rey e estabelecerem limites mais severos à atividade mineradora. A população já sabe, pelo menos desde a audiência pública do dia 22 de junho, que o primeiro passo cabe ao prefeito e aos vereadores: sem carta de anuência não há exploração minerária dentro de Mariana.
Isso que dizer que a atenção de Mariana está concentrada nos políticos e autoridades locais que ainda não se posicionaram clara e explicitamente contra a mineração dentro do perímetro urbano. Até o momento somente três o fizeram: o prefeito Geraldo Sales Bambu, a vereadora Aída Anacleto e o ex-prefeito Roque Camêllo. É preciso saber com certeza de que lado nossos demais representantes estão. A população saberá retribuir, nas próximas eleições, a aqueles que assumiram a defesa de Mariana.
Enfim, para aqueles que ainda não sabem ou fingem não saber, o povo de Mariana não quer para si o destino de cidades como Paracatu e Congonhas; cidades que permitiram a mineração em área urbana e hoje pagam com a própria saúde por esse erro grave. Não em Mariana! Não somos tolos: a mineração, é claro, tem sua importância. Mas nunca ao ponto de justificar tamanha agressão à primeira cidade politicamente organizada de Minas Gerais - e às vidas de seus habitantes. Afinal, “Mariana é maior que isso tudo!”.



Deu no "Folha Marianense"

Reativação da Mina del Rey une autoridades e sociedade civil organizada

A Comissão de Minas e Energia da Assembléia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), composta pelos deputados Sávio Souza Cruz (PMDB), Tiago Ulisses (PV), Antônio Carlos Arantes (PSC), Carlos Henrique (PRB) e João Vitor Xavier (PRP) manifestou-se favorável à audiência pública sobre a reativação da Mina Del Rei, em Mariana, atendendo requerimento do deputado estadual Rogério Correia (PT), que por sua vez acolheu pedido da vereadora Aílda Ribeiro Anacleto (PT).
Na 3ª Reunião Extraordinária da Comissão, que aconteceu na manhã e extendeu-se pela tarde de quarta-feira, dia 22 de junho, no auditório do Centro de Convenções Poeta Alphonsus de Guimaraens Filho, o presidente da Comissão, deputado estadual Sávio Souza Cruz esteve acompanhado do colega Rogério Correia e do deputado federal Padre João (PT). Além dos deputados, foram convidados para participar da discussão o secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Adriano Magalhães Chaves, representado no evento pelo senhor Décio Gonçalves; o prefeito interino de Mariana, Geraldo Sales de Souza, Bambu; o presidente interino da Câmara Municipal de Mariana, Fernando Sampaio de Castro; a vereadora Aílda Anacleto; o juiz Antônio Carlos Braga, que justificou a ausência; o promotor Antônio Carlos de Oliveira; a chefe do escritório do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em Mariana, Débora Costa Queiroz; o arcebispo de Mariana, Dom Geraldo Lyrio Rocha, representado no evento pelos párocos da Arquidiocese de Mariana e o presidente da União das Associações Comunitárias de Mariana, Benedito Alves Ferreira, representado no evento pelo senhor Levi Gomes de Freitas.
A Mesa dos Trabalhos contou ainda com a presença do coordenador do movimento O Minério É Nosso, Luiz Pegaso; do vereador Juliano Gonçalves; do capitão PM Laércio Marques; do sindicalista Valério Vieira Santos, do Sindicato Metabase Inconfidentes; do pároco Padre Lauro Versiani; do dirigente do Sindiextra, Wilson Starling; dos secretários municipais de Cultura e de Meio Ambiente, Cristiano Cassimiro e Luana Cláudia; além de representantes do Movimento Mariana Viva.
Durante o encontro foi aberta a palavra a 18 cidadãos que se inscreveram. O evento contou com a presença maciça da população. A Vale não foi oficialmente convidada e sequer enviu representante à audiência pública. O autor do requerimento, deputado estadual Rogério Correia, militante do Partido dos Trabalhadores, historicamente comprometido com as lutas sociais, explicou que a decisão de arrendamento com a conseqüente reativação da mina não pode ser fruto apenas de uma vontade unilateral, e que a ALMG elaborou estudos sobre o impacto da mineração nos municípios mineiros.
Com o arrendamento a Vale espera que a mina entre em operação a partir de 2014, gerando 300 novos empregos diretos. A tônica da audiência foi totalmente desfavorável ao empreendimento, embora seja opinião unânime a de que a mineração é necessária. Nenhum cidadão ou autoridade é contra a Vale, mas contra a exploração de uma mina muito próxima ao centro histórico da cidade primaz, numa área de lavra licenciada dentro de um cinturão verde e que inclui dois bairros: Vila Del Rei e Vila Maquiné.
“Está claro para nós o quanto a atividade minerária nos prejudica. Não agrega valor. Exportamos além do minério de ferro a água. Em Minas Gerais não há sustentabilidade ambiental e econômica. A maior financiadora de campanha política é a mineradora. Sem o financiamento público, a reforma política, não teremos avanço. Quero cumprimentar o prefeito pela postura. A ausência da Vale à audiência pública é um grande desrespeito à cidade e à Assembléia Legislativa de Minas Gerais. Há um outro desrespeito que é a terceirização, quando ela passa uma área de lavra para outra empresa”, lamentou o deputado federal Padre João.
O prefeito interino de Mariana, Bambu, tomou posição contrária ao empreendimento e justificou sua atitude, sendo ovacionado pelos presentes.”No início do ano nós estivemos numa audiência no Ministério das Minas e Energia, em Brasília. As cidades mineradoras representadas no evento fizeram o lobby da mineração. Eu tomei postura porque o impacto social é enorme e a arrecadação irrisória. O ciclo do ouro deixou uma cidade bonita, planejada. Qual cidade vai deixar o ciclo da mineração? A saúde do povo de Mariana é mais importante. O povo de Mariana não quer e não vai aceitar a reativação da mina Del Rei”, garantiu Bambu. O prefeito interino afirmou que a Vale precisa de uma carta de anuência e que ele não dará o documento. Bambu disse que se preciso for ele mobilizará a sociedade e colocará máquinas nas estradas para impedir a exploração, uma forma de desobediência civil justificada, sem o uso da violência.
“Mariana está toda descaracterizada. Estamos gastando bem, porque as contas públicas estão abertas. Encontramos um aterro sanitário que estava virando um lixão. Encontramos uma avenida sem drenagem, mal feita, maquiada. Este governo não tem compromisso com maquiagem. Os nativos e aqueles que escolheram Mariana para morar não medirão esforços para ver a cidade preservada. O povo de Mariana e suas autoridades não aceitam a reativação da Mina Del Rei”, assumiu Bambu.
Para o deputado Rogério Correia, há uma vontade da base governista na ALMG de derrubar os requerimentos sobre a reativação da mina Del Rei. A representante do IPHAN alegou que o órgão não pode colaborar ainda porque não existe processo de licenciamento em curso. Para o coordenador do movimento O Minério é Nosso, nós estamos ficando com o passivo ambiental e com a exportação que é subsidiada com nossos impostos. “A Vale se recusa a pagar ao órgão federal”, ironizou Pegaso.
A vereadora Aílda lembrou aos presentes o decreto de tombamento da cidade primaz e os riscos da exploração próxima a sítios arqueológicos. “O nosso futuro será de buracos e barrancos. Eu não acredito que a Vale vá fazer a reforma do prédio da Câmara Municipal de Mariana porque não fez também os investimentos de infra-estrutura na região do Cabanas, conforme prometido. Nós queremos o que a Vale nos deve, ou seja, R$ 250 milhões. A região da mina Del Rei possui uma série de minas e nascentes, um cinturão verde com sua fauna e flora. Eu sou a favor do desenvolvimento com sustentabilidade. Nós não fomos consultados. A Vale convidou três vereadores, ao invés de dez. Nós vamos fazer com que haja transparência, porque temos representantes e instrumentos para isso. Na região, nós temos um patrimônio arqueológico tombado”, defendeu Anacleto.
Foi o deputado federal Padre João quem lembrou a importância de ter o Poder Executivo Municipal como aliado. “A intenção da Vale está formalizada internamente. A carta de anuência quem dá é o prefeito municipal”, lembrou o deputado.
Para o sindicalista Valério, a empresa se utiliza de má fé ao omitir das autoridades e cidadãos a verdade. “Ela quer aumentar a produção, extraindo esse minério de qualquer lugar, porque os contratos estão assinados com os seus compradores. A Vale estatal planejou a moradia de seus funcionários. A Vale privatizada criou conflitos no Brasil inteiro. Em 2008, morreram 23 pessoas ao longo da linha de trem. A Vale não está conseguindo reduzir os óbitos e acidentes. A empresa reserva um fundo porque comete crimes e sabe que pode ser punida. Lucra um absurdo e nos paga uma ninharia. Resolve as questões trabalhistas por um preço muito baixo. Nós não podemos deixar de denunciar aqui a lógica capitalista, que dá às costas aos seus trabalhadores e à sociedade. 60% do lucro da Vale vai para o Citibank e Banco de Boston. Os fundos de pensão têm acento para gerenciar e não deixar o lucro na sociedade brasileira. O gasto com os trabalhadores não chega a 5% com a Vale privatizada. O Congresso tem que aprovar uma legislação dura para obrigar a empresa a pagar os impostos devidos”, destacou Valério.
Para o representante da SUPRAM a reativação é uma incógnita. “Até o momento nós não temos nenhum processo de licenciamento sobre a reativação/operação da mina Del Rei. Somente com os estudos de impacto poderemos avaliar ou discutir o assunto”, afirmou.
Existem situações extremamente preocupantes caso se concretize a reativação da mina. Uma delas diz respeito às quatro captações de água que estão dentro da área de lavra.
Para o vereador Juliano Duarte, a cidade sempre foi refém da mineração e dependente dos impostos. “Não foram feitas novas captações de água. As empresas de fora não se instalam em Mariana porque não temos espaço”, enfatizou ainda o jovem edil. De fato, as terras de Mariana pertencem à Companhia Minas da Passagem, Vale e Arquidiocese de Mariana.
O Movimento Mariana Viva esteve presente à audiência pública e vários de seus membros se inscreveram para falar. Juli da Mata, emocionada, questionou o contra-senso da mineradora. “É por dois dias de lucro que a Vale quer colocar em risco a qualidade de vida da população marianense?”, indignou-se. A representante dos moradores das áreas afetadas destacou o rebaixamento dos lençóis freáticos, a substituição da mina d’água pelo minério, a destruição dos morros, o beneficiamento do minério em outra localidade, deixando os recursos em outro município e o ônus para a cidade de Mariana.
O desabafo de uma moradora colocou outra questão em discussão: a das oportunidades. “Os filhos da cidade ficam a ver navios. A Vale não deu oportunidade aos meus filhos”. Para a senhora Jussara Mariana de Souza, do movimento Salva Vidas, o Estado tem sua parcela de culpa. “Andei 9 km a pé, mapeando cinturões e recursos hídricos. Se estão fazendo prospecção na área e gastando milhões, eles vão reativar sim. A polícia de Meio Ambiente não fiscaliza. A área da mina está cheia de porcaria, de entulho e, sobretudo, de buracos que fazem vítimas”, denunciou a ambientalista.
Algumas ponderações merecem uma profunda reflexão. Primeira, são três as licenças que dependem dos órgãos competentes: a prévia, a de instalação e a de operação. Segunda, a Vale é titular do direito mineral ou direito de lavra e deve alguns bilhões de royalties atrasados ao governo, segundo o Departamento Nacional de Pesquisa Mineral (DNPM). Royaltie não é imposto ou tributo. Royaltie é uma compensação. Terceira, se a mineração causa danos ao ambiente, retirando do subsolo riquezas minerais que pertecem ao povo brasileiro, nada mais justo que buscar essa compensação. Evidentemente, a exploração próxima ao centro histórico da primeira cidade politicamente organizada das Minas Gerais, com todas as suas problemáticas e impactos, jamais poderá ser compensada. O lucro líquido da gigante privatizada em 2011 foi 292% maior que no exercício de 2010. E é sobre essas possibilidades que a sociedade civil organizada se debate e lança seu apelo emocional. “A gente não quer a degradação da nossa história e do nosso ambiente”, apelou Aloísio Teixeira da Fonseca, em lágrimas. “A Vale diz que realizou reuniões para explicar aos moradores o que ela pretende fazer e tudo não passa de uma falácia. A empresa reflete o caráter de seus dirigentes, demonstrando o tempo todo suas contradições”, desabafou um morador.
A participação da Igreja no processo é uma realidade. Os religiosos apóiam as manifestações contra a reativação da mina e aplaudem o prefeito. “Toda a reflexão está dentro de algo maior: a concepção da pessoa e da visão de mundo. É preciso enxergar a vida de forma mais ampla. Dom Luciano lutou para a Vale não ser privatizada da forma como foi. Ele falava como quem conhecia a Vale por dentro. Um acordo entre políticos, autoridades, cidadãos, me parece que esse movimento tem tudo para ser vitorioso. Me congratulo com o prefeito, que apontou para a desobediência civil, um movimento não-violento de resistência”, profetizou o padre Lauro Versiani.
O presidente da Comissão, deputado Sávio Souza Cruz, explicou como se dá o processo de inclusão de pauta e votação de matéria no parlamento estadual. “O licenciamento ambiental é um decisão política. A política é entendida como forma de decisão e valorização plural da sociedade. Isso precisa ser resgatado. Na instância final, que se quer plural e representativa da sociedade, é que o licenciamento será liberado ou não. Hoje se vê o processo de licenciamento como mera instância. As pessoas temem que o processo licenciador não será garantia para a inibição dos empreendimentos que vão contra o bem comum. Os critérios técnicos aquilatados agregarão valor e contribuição à decisão coletiva. Assim, julgamos cumprida a finalidade da audiência pública nesta fase”, concluiu o presidente da Comissão, Sávio Souza Cruz.

Acesso: 30/06/2011


Deu no site da Assembléia Legislativa de Minas


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O Chão de Mariana é sagrado!


Mariana está à beira de um dos maiores atentados à qualidade de vida de seus habitantes. E quem traduziu melhor isso foi o nosso atual prefeito. Disse ele: “Se a mineração de ouro nos deixou a opulência do barroco, a mineração de ferro só tem nos legado buraco e barraco.” A insaciável indústria mineradora engole tudo. Sem ninguém que lhe imponha limites, ameaça invadir a cidade, colocar abaixo nossas montanhas e com elas, parte de nossas vidas.

À Vale coube tão apenas “comunicar”: reativará a Mina Del Rey, dentro da cidade. Uma “mini-mina” é o que dizem. Esse é o nome dado ao empreendimento que pretende extrair 2 milhões de toneladas de  minério de ferro por ano, exploração a céu aberto praticamente dentro dos nossos quintais. Quantas toneladas exatamente ao dia? 365 dias do ano, 16 horas por dia? Quanto pó? Quanto barulho? Quanto tráfego? Quanta degradação? Mas isso a Vale não informa. Apenas diz que quem fará os tais estudos de impacto é a empreiteira que arrendará o negócio. Mas se apressa em afirmar que há como “mitigar” (seus funcionários graduados sempre têm esta palavra enganosa na ponta da língua). O que querem de fato é “mitigar” nossa capacidade de pensar, nossa capacidade de entender o que de fato significaria ter uma mineração atuando dentro da zona urbana da primeira cidade de Minas Gerais.

“Mitigar”? Direitos não existem para ser usurpados e depois compensados. Direitos devem ser resguardados de toda possibilidade de usurpação, isso sim. O blá-blá-blá da empresa visa fazer com que nós, moradores, acreditemos que políticas corretivas podem substituir políticas de prevenção. Mas prevenção significa, no caso de Mariana: dizer não è reativação da Mina Del Rey.

E quanto aos danos à saúde, o que dizem as grandes mineradoras que atuam em Minas Gerais? Insistem em dizer que a mineração traz apenas o “progresso”, mas calam sobre o lado negro de suas próprias atividades. Numa época em que a consciência da importância da preservação do meio ambiente para nosso bem-viver difundiu-se por todo o mundo, as lorotas sobre a mineração que sempre traz o “progresso” não convencem sequer as crianças dos jardins de infância.

Do alto do morro da Igreja São Pedro dá pra ver a área da dita mina. Os trabalhos de preparação estão a pleno vapor. Diz uma lenda de Mariana que certa vez, um escravo que construía a Igreja de São Pedro, ao olhar lá de cima para a cidade, a viu coberta do sangue. Talvez não fosse sangue, mas a poeira do minério cobrindo a primaz de Minas.

A Vale se esquece apenas de uma coisa. Mariana não é Itabira, não é Nova Lima, não é Congonhas. Este chão é sagrado, aqui nasceu Minas Gerais.








O convite é para a Audiência Pública que será realizada pela Assembléia Legislativa de Minas Gerais em Mariana. O encontro se abre como possibilidade de manifestação pública contra a reativação da Mina Del Rey.
A Audiência acontecerá no dia 22/06/2011, às 10h:30, no Centro de Convenções de Mariana.
Informe-se! Comprometa-se!
É importante que aqueles que se importam com Mariana e defendem qualidade de vida nesta cidade estejam presentes para se fazer ouvir.


Convite Audiência Pública
O Presidente da Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais, Deputado Dinis Pinheiro, o Presidente da Comissão de Minas e Energia, Deputado Sávio Souza Cruz, e o Deputado Rogério Correia, autor do requerimento, convidam V. Exa. para a Audiência Pública destinada a debater a não reativação da Mina Del Rey.
22 de junho de 2011 – 10h30
Centro de Convenções de Mariana
Praça JK, s/nº – Centro
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Diretoria de Comunicação Institucional
Tel.: 31 2108 7800