quinta-feira, 7 de julho de 2011

Paracatu hoje... Mariana amanhã?

Foto Beto Magalhães (Estado de Minas, 13/07/2008)
A mineradora canadense Kinross foi autorizada a minerar na área urbana de Paracatu, tal como quer fazer a Vale em Mariana. Conheça a tragédia desta cidade assistindo ao impressionante documentário do jornalista Sandro Neiva
http://www.ourodesangue.blogspot.com/

quarta-feira, 6 de julho de 2011

O sinistro silêncio da Vale

Não custa nada lembrar: passaram-se já duas semanas desde a memorável audiência pública em que a sociedade civil organizada disse não à reativação da Mina del Rey. A empresa limitou-se àquela curtíssima nota que todos conhecemos de cor e salteado: "baixo impacto" e "trezentos postos de trabalho". E calou-se.
Mas calar-se é sempre uma forma de dizer alguma coisa. E o que revela este sinistro silêncio? Ele mostra o grau de desrespeito com que são tratados os cidadãos deste cidade, a imprensa desta cidade, as autoridades desta cidade. Seus caminhões e máquinas continuam a subir e descer para a mina, como se rigorosamente nada tivesse acontecido. A Vale prefere ignorar-nos, agir como se não existíssemos. E toca adiante seus planos. Mariana é invisível para ela.
No entanto, é de se esperar uma palavra, uma palavra que seja da Vale. A ser esta a sua política de "comunicação", a ser esta sua forma de relacionar-se com Mariana, como acreditar que haja um pingo de boa intenção e de verdade naquilo que ela, seus marqueteiros e dirigentes tentam vender à opinião pública?
Na TV, a Vale diz "proteger" a Música Popular Brasileira. Quanto farisaísmo! Todos os grandes artistas da humanidade sempre se inspiraram por duas coisas principais: a natureza e o ser humano. Por nenhuma das duas a Vale tem tido respeito nos últimos anos.
Mas Mariana, que sobre si sente pesar a sombra do gigante, não se curva. E exige um último sinal de dignidade deste gigante voraz: uma palavra de esclarecimento e de consideração à população da primeira cidade de Minas.

A realidade da mineração em Congonhas. Leia o depoimento da congonhense Ivana Celestina Gomes (Revista Ecológico, junho de 2011)


- “Há dois anos, a Namisa resolveu fazer uma estrada no meio de nossos dois mananciais - o São João Batista e o Boi na Brasa - para limitar o tráfego de caminhões na BR-040. Na época, quase 3.000 pessoas do bairro receberam água barrenta em suas casas por 90 dias. Não tínhamos água para nada, nem para fazer café. Mas não sabíamos o motivo de tudo aquilo que estava acontecendo. Gritamos por socorro, apelamos aos órgãos competentes para obtermos uma resposta. Mas não tivemos sucesso. Foi aí que resolvemos ir até os mananciais de água para saber o que estava causando tanto transtorno. E nos deparamos com a estrada que hoje pertence à Namisa.


Fizemos uma manifestação pacífica na promotoria, no Legislativo e na prefeitura. E, já no início de 2010, o promotor de Justiça de Congonhas, Dr. Vinícius Galvão, tomou a iniciativa de responsabilizar a empresa pela manutenção de água às pessoas do Pires até que se resolvesse o problema. Algum tempo depois, começou a chegar água em caminhão pipa e em galões de 20 litros todos os dias em nossas casas. No dia 15 de janeiro de 2010 percebemos que nossa nascente João Batista havia sido totalmente assoreada. Juntos, em regime de mutirão, retiramos de lá aproximadamente 50 toneladas de minério.

A empresa assumiu o erro numa audiência pública, em março de 2010 e nossa nascente diminuiu seu fluxo de água. Isso é do conhecimento da empresa e também da Copasa. O manancial Boi na Brasa (com várias nascentes dentro da mata) não vem mais para a comunidade do Pires I. E a estrada da Namisa fica pronta em agosto. Continuamos lutando para que preservem nossos mananciais. Hoje, eles estão sob proteção da Justiça e sempre que há fluxo menor de água e a comunidade fica sem recurso, entramos com uma representação no Ministério Público. A empresa assinou um Termo de Ajuste de C onduta (TAC) de R$ 300.000 para reparar os erros na comunidade. Com esse dinheiro,está sendo construído um salão comunitário para nossas reuniões. As questões de nossos mananciais já passou da autonomia de nossa Polícia Ambiental. Temos um laudo do Igam, que fez análises lá no Boi na Brasa, que diz que as coisas não estão como deveriam estar. Hoje, não conseguimos mais entrar nos mananciais para fazer limpeza. Não temos mais acesso. A empresa restringe nossa entrada. Não sou contra o progresso de Congonhas. O Pires está rodeado de mineradoras: Vale, Ferrous, Namisa... Só queremos que eles minerem respeitando o meio ambiente, as pessoas e a água. Porque ninguém vive sem água. Falo com o coração, aquilo que eu vivi e ainda vivo aqui”.


Fonte: http://www.revistaecologico.com.br/materia.php?materia=NDk4&edicao_id=66
Acesso: 02/07/2011

Observação do blog: Em 2008, 40% da Namisa foram vendidos pela CSN a um grupo de empresas japonesas e coreanas. Valor da venda: 3 bilhões e 120 milhões de dólares. Como se vê, os orientais querem reaver a todo custo o dinheiro investido...